Graduado em Engenharia pela Universidade de São Paulo (1972),
mestrado em Administração pela Fundação Getúlio Vargas - SP (1979) e
doutorado em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas - SP
(1987).
Atualmente é - diretor da Microsoft e professor doutor ms-3 da
Universidade de São Paulo.
Tem experiência na área de Administração, com
ênfase em Negócios Internacionais, atuando principalmente nos seguintes
temas: tecnologia, competitividade, aumento de produtividade,
produtividade em desenvolvimento de software e estratégia empresarial.
Nesta edição do programa JP Online Entrevista, Thiago Uberreich e
Marcelo Mattos recebem nos estúdios da Jovem Pan Online Paulo Feldmann,
presidente do Conselho da Pequena Empresa da Fecomercio-SP. Nesta
conversa, Feldmann nesta quarta-feira 05 out 2011, que é o Dia da Pequena e Micro-Empresa, analisa a situação do pequeno e micro-empresário na economia do Brasil de hoje. Confira no vídeo abaixo :
Artigo: A pequena empresa como fonte de desenvolvimento, por Paulo Feldmann
Hoje, 75% dos novos empreendimentos sucumbem em menos de cinco anos
Apenas para incorporar o contingente de jovens que vai entrar no mercado de trabalho nos próximos cinco anos será necessário gerar 50 milhões de novos empregos. E isso acontecerá em um momento em que a grande maioria das empresas estará preocupada em reduzir custos e eliminar mão de obra. Uma forma inteligente para se resolver esse dilema é estimular a capacidade empreendedora do brasileiro dando-lhe condições de criar e manter o seu próprio negócio, evitando que ele vá tentar se colocar como empregado nas grandes ou médias empresas. Mas para isso muita coisa precisa mudar no mundo das pequenas e microempresas.
Apenas para incorporar o contingente de jovens que vai entrar no mercado de trabalho nos próximos cinco anos será necessário gerar 50 milhões de novos empregos. E isso acontecerá em um momento em que a grande maioria das empresas estará preocupada em reduzir custos e eliminar mão de obra. Uma forma inteligente para se resolver esse dilema é estimular a capacidade empreendedora do brasileiro dando-lhe condições de criar e manter o seu próprio negócio, evitando que ele vá tentar se colocar como empregado nas grandes ou médias empresas. Mas para isso muita coisa precisa mudar no mundo das pequenas e microempresas.
A começar pelo fato de que hoje nada menos que 75% dos novos
empreendimentos brasileiros sucumbem em menos de cinco anos. Algo errado
está acontecendo com o universo de 5,8 milhões de micro e pequenas
empresas que são 99,1% do total de empresas registradas no Brasil. Pois,
apesar delas gerarem 53 milhões de empregos, são responsáveis por menos
de 20% do nosso Produto Interno Bruto (PIB). Esse índice é um dos mais
baixos do mundo. Na grande maioria dos países elas têm uma participação
muito maior e, na Itália e na Espanha, por exemplo, respondem por mais
da metade dos respectivos PIBs.
Mesmo na América Latina a média é de 35%. Se olharmos para sua
participação nas nossas exportações os números são ainda piores:
Enquanto na Itália as micro e pequenas empresas respondem por 43% das
mesmas, no Brasil elas são responsáveis por apenas 1,2%.
Onde está o problema?
Uma pesquisa da FEA/USP, concluída
recentemente, constatou que a principal razão é a baixa produtividade.
Isso é consequência de vários aspectos que afetam não apenas as
pequenas, mas também a totalidade das empresas. Bons exemplos de causas
para essa baixa produtividade são a taxa de juros ou a alta carga
tributária, mas essas são causas que afetam todos os tipos de empresas.
No entanto, a pesquisa apontou que existem três fatores que são
específicos e que afetam primordialmente a micro e a pequena.
O primeiro destes fatores é que os brasileiros, em sua maioria, optam
por estabelecer atividades em negócios já testados e com baixo nível de
inovação tecnológica. Em outros países, é comum, o empreendedor, quando
abre seu negócio, tentar introduzir uma inovação tecnológica no mercado
enquanto no Brasil isso é raro acontecer. A grande maioria do
empreendedor brasileiro abre seu negócio não porque teve uma ideia
inovadora, mas por que precisa sobreviver.
O segundo fator importante é de ordem cultural e está relacionado ao
fato do pequeno empresário brasileiro enxergar no seu concorrente um
inimigo que deva ser abatido, mas nunca um possível aliado para, por
exemplo, em conjunto, realizarem exportações que seriam muito difíceis
para quem atua sozinho. A união é a razão do sucesso da microempresa
italiana, mas isso não existe no Brasil. Na Espanha, com frequência, as
micros de um determinado setor se unem e criam um centro de pesquisas
que as atenda e beneficie a todas. Finalmente, o terceiro fator é a
falta de informação do pequeno empresário. A pesquisa constatou que a
grande maioria desconhece desde a existência de linhas de financiamento
especiais até os cursos de capacitação gratuitos.
Esses três fatores estão ligados ao fato de se ser pequeno. Como
superar isso?
Temos um bom modelo baseado em se ajudar quem é pequeno e
que funciona muito bem em nossa agricultura que é o modelo da Embrapa -
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Nossa agricultura é uma das
mais eficientes do mundo, em boa parte graças a essa empresa que foi
criada há 38 anos. O modelo ali adotado se baseia na própria Embrapa
fazer a pesquisa necessária, desenvolver a tecnologia e disseminar esse
conhecimento para os agricultores.
Mas não é justamente isso que está
faltando alguém fazer para as micro e pequenas empresas?
Evidentemente
não seria necessário criar uma nova estatal, basta identificar qual das
inúmeras instituições que já atuam ligadas à micro e pequena empresa
poderia melhor desempenhar esse papel.
Durante a campanha eleitoral a presidente Dilma Rousseff por diversas
vezes externou a necessidade de se apoiar muito mais vigorosamente a
micro e a pequena empresa brasileira. Ao assumir o governo tem reiterado
que sua meta mais importante é extirpar a miséria em nosso país e há
poucos dias reafirmou que vai criar o Ministério da Micro e da Pequena Empresa.
Os dois temas estão totalmente interligados ou alguém ainda
acredita que seria possível gerar empregos para todos os excluídos que
queremos incorporar à nossa economia?
A saída está em desenvolver o
empreendedorismo. Isso significa eliminar a burocracia, facilitar o
acesso á credito, reduzir taxas de juros mas principalmente educar e
capacitar essa imensa massa de brasileiros desvalidos para que possam
ter e administrar o seu próprio empreendimento.
Ajudar a pequena empresa brasileira a ser inovadora, facilitar a
realização de consórcios entre elas e disseminar informações importantes
que melhorem sua gestão são os fatores que vão criar as condições
fundamentais para que elas tenham condições de superar sua crônica baixa
produtividade. Só com um segmento de pequenas e micro empresas
produtivo e competitivo poderemos atingir o almejado desenvolvimento
sustentado.
Paulo Feldmann é presidente do Conselho da Pequena Empresa da Fecomercio
Artigo publicado no jornal Valor Econômico - pág. A12 - 28/02/2011
Ver e ler : Sebrae
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